segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CAFÉ FILOSÓFICO NA TURMA DO 10º P

Realizou-se no dia 10 de Dezembro, na Turma do 10ºP do Externato da AESBUC um café Filosófico subordinado ao Tema da Mulher. Esta actividade do Clube de Ética serviu para assinalar a Comemoração do Dia Mundial dos Direitos Humanos.
O Prof. Eugénio Oliveira foi o orador e a sessão teve uma parte de debate em que todos os alunos tiveram a oportunidade de participar com as suas opiniões.
Dexiamos aqui o texto do Prof. Eugénio Oliveira.
I CAFÉ FILOSÓFICO - AESBUC

TEMA: A MULHER
"A Mulher não nasce Mulher, torna-se" S. de Beauvoir
Em primeiro lugar quero agradecer a vossa presença aqui neste espaço. Espero que possa ir de encontro às vossas expectativas como também espero dar um contributo importante para o debate que se vai realizar após a minha intervenção.
Este encontro ficará marcado como sendo o primeiro Café Filosófico a ser realizado na AESBUC . Esta marca de café filosófico tem uma história curta, surgiu em 1992 em França por Marc Sautet e daí para cá tornou-se no nome mais famoso em todo o Mundo para este tipo de encontros, Os Cafés Filosóficos são uma forma de, em espaços culturais, as pessoas dialogaram sobre os vários temas da vida humana e de assim sair da rotina e do stress do trabalho. É também uma forma democrática e informal de abordar assuntos que nos interessam e dos quais, geralmente temos opinião.
Para este I Café Filosófico que realizamos decidimos fazer uma abordagem ao Tema da Mulher como forma de assinalar o Dia Mundial dos Direitos Humanos .
Um tema como este, de certo que é polémico, muito abrangente e de grande complexidade. Eu que sou do sexo masculino, não se torna tarefa fácil falar da Mulher, pois a civilização ocidental, da qual faço parte, não foge a uma tradição milenar de educação machista. Mas, na posição em que me encontro hoje, ou seja, de ser o orador de um tema como este, tentarei ser o mais imparcial possível.
A abordagem que vou fazer é uma abordagem filosófica mas muito pessoal e serei também o mais simples possível na linguagem.
Mulher:
Nada mais contraditório do que ser mulher ...não é verdade? Ouve-se muitas mulheres dizerem: quem me dera ser homem mas por sua vez ouve-se muito pouco os homens dizerem: quem me dera ser mulher ( e os que há é por circunstâncias especiais!!). Desde os primórdios da humanidade que a mulher tem lutado pelos seus direitos, tem lutado por uma vida melhor, pelo seu reconhecimento enquanto ser vivo. Antigamente, as mulheres eram usadas como sendo escravas e objectos sexuais e ainda hoje há reminiscências disso, pois de vez em quando chegam-nos notícias de vários tipos de violência e torturas sobre as mulheres. A secundarização ou a inferioridade da mulher em relação ao homem é dado por factores meramente culturais. Na civilização ocidental, a concepção sobre a Mulher tem muito a ver com a ideia que os Gregos transmitiram sobre ela e ainda pela concepção da nossa tradição religiosa.
O tema “mulher” foi abordado por muitos pensadores. Textos de importantes filósofos como Platão, Aristóteles e Kant, retratam a diferenciação entre os sexos. No entanto, estudos sobre as mulheres aparecem em obras menos conhecidas, as quais tratam de temas relacionados com a moral, o que, certamente contribuiu para que a questão da discriminação da mulher passasse despercebida. Além disso, quando o tema referente às mulheres aparece em textos filosóficos, este é cercado de muitos preconceitos, tentando demonstrar uma suposta inferioridade natural da mulher.
Platão é um autor único na Grécia e de certo modo apresenta uma concepção agradável sobre a Mulher. Ele era da opinião de que as mulheres poderiam governar o Estado tal como os homens, precisamente porque os soberanos devem governar a cidade - Estado em função da sua razão. Segundo Platão, as mulheres tinham tanta racionalidade como os homens se recebessem a mesma formação e se fossem ainda libertas do cuidado das crianças e das tarefas domésticas. Diz também que um Estado que não educa e forma mulheres é como um homem que apenas exercita o seu braço direito. Platão tinha uma opinião positiva das mulheres - pelo menos para o seu tempo. Mas é Aristóteles o pensador que mais influenciou a mentalidade Ocidental que apresenta uma ideia negativa acerca da Mulher. A sua ideia marca definitivamente o futuro da Europa Ocidental acerca do que iríamos pensar sobre ela, ou o que ela podia fazer ou não fazer.. Aristóteles pensava que algo faltava à mulher. Ela é um «homem incompleto» dizia. Na reprodução, a mulher é passiva e receptora, enquanto o homem é activo e dador. Por isso, segundo Aristóteles, a criança herdava apenas as características do homem. A mulher é como o terreno que recebe e conserva a semente, enquanto o homem é o próprio «semeador». Ou, dito de uma forma verdadeiramente aristotélica: o homem dá a «forma», a mulher dá a «matéria». Considero surpreendente e lamentável que um homem tão perspicaz como Aristóteles se pudesse enganar de tal forma no que diz respeito à relação entre sexos. No entanto, revela duas coisas: em primeiro lugar, Aristóteles não tinha muita experiência prática da vida das mulheres e das crianças; em segundo lugar mostra como nos podemos enganar quando os homens detêm o poder absoluto na filosofia e na ciência.
A concepção aristotélica da mulher é particularmente grave porque se tornou predominante durante a Idade Média. Deste modo, também a Igreja herdou uma concepção da mulher para a qual não há justificação nenhuma na Bíblia. Jesus não era de modo algum inimigo das mulheres!" A Civilização Ocidental ficou assim durante séculos prisioneira desta concepção de Mulher, ou seja, como um ser considerado desprezível e eram úteis apenas para cuidar dos filhos, executar as tarefas domésticas e satisfazer os homens.
A forma como alguns filósofos, em geral, tematizam a mulher ao longo dos séculos, demonstra um claro desprezo ao ser feminino. Aproveitando-nos de uma passagem de Pitágoras, o mesmo afirma que “existe um princípio bom que gerou a ordem, a luz e o homem; há um princípio mau que gerou o caos, as trevas e a mulher”. Até na própria mitologia, tempo anterior ao surgimento da Filosofia, os gregos já destacavam fortemente a presença de mulheres através da figura das deusas Artemis, Atena, Afrodite, Deméter, Hera, Perséfone, Pandora e Gaia. Embora a inteligência e o pensamento sejam representados pela deusa Minerva (versão latina da deusa Atena), é interessante destacar, que esta nasce não do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, Zeus. Isto demonstra, desde o princípio, a desvalorização da mulher.
Esta concepção, felizmente começa a desaparecer no Mundo Ocidental, e a partir do Renascimento e da modernidade a admiração de pintores, poetas e escritores, pelas mulheres ajudou à emancipação das próprias mulheres. Mas às mulheres mais uma vez só é concedido um saber incompleto e sob uma forte vigilância” realizado, especialmente através de instituições religiosas. O Filósofo Jean Jacques Rousseau, no quinto capítulo do Emílio esvazia a possibilidade da mulher pensar. Segundo ele, “elas devem aprender muitas coisas, mas apenas aquelas que lhes convém saber” . Mas Rosseau tinha no entanto uma admiração pela Mulher e a sua doutrina era singular e até fora dos quadros conceptuais da sua época, dizia: “se as mulheres tivessem tido tanta participação como os homens na manipulação dos negócios e no governos dos impérios…então as mulheres teriam podido dar grandes exemplos de grandeza de alma e de amor de virtude (...) se a injustiça dos homens lhes não tivesse roubado, juntamente com a sua liberdade, todas as ocasiões de se manifestarem aos olhos do mundo”.
Foi a partir da Revolução Francesa, em 1789, que o papel da mulher na sociedade começou a alterar-se. A exploração e limitação dos direitos marcaram essa participação feminina e aos poucos foram surgindo movimentos pela melhoria das condições de vida, de trabalho, a participação politica, o fim da prostituição, o acesso à instrução e a igualdade de direitos entre os sexos. Em alguns países, felizmente, podemos ver que algumas mulheres já aderiram ao mundo da política, mundo este que desde sempre envolveu apenas homens. As mulheres cada vez mais participam no mundo não só da política mas também do desporto, da saúde, da engenharia etc.
Hoje, para além da faceta, de mãe, feminina, mulher, etc., a mulher pode também ser trabalhadora, participativa e capaz de contribuir de algum modo para a evolução dos tempos e da nossa sociedade. A mulher não deve ser vista de maneira diferente, deve ser considerada como um ser vivo e ter os mesmos direitos que os homens.
Entretanto, apesar da discriminação das mulheres no campo filosófico, é possível perceber que, ao longo da história da filosofia, várias mulheres se destacaram como seres humanos que buscaram saber e conhecimento. No século XX há um destaque especial a algumas filósofas importantes. Dentre elas, encontram-se Hannah Arendt, Simone Weil, Edith Stein, Maria Zambrano e Rosa Luxemburgo. Estas mulheres, contrariando a ordem patriarcal de seu tempo, foram filósofas importantes e, sem dúvida, contribuíram decisivamente para a construção do conhecimento.
Penso que a mulher deve assumir uma postura de ser humano e exercer a sua actividade de acordo com as suas posses, situação social ou grau de intelectualidade. Considero apenas que a Mulher é muitas vezes vitima de si própria. Ela pretende ser igual, ter direitos iguais e há um conjunto de movimentos feministas e associações de defesa da mulher que a ajudam a lutar por direitos iguais. Mas acontece que elas próprias ao vitimizarem-se acabam por afirmar alguma inferioridade e denotam nas suas posturas também uma outra forma de “machismo” ao queixarem-se de si próprias. Expressões como “ gosto mais de trabalhar com homens do que com mulheres”; ou quando no trânsito há asneiras de condutoras e afirmam “ Tinha de ser mulher” “ É mulher”!. Ou seja, perante isto constato: há nas próprias mulheres um reconhecimento de uma certa inferioridade . Apesar das aproximações que a mulher tem feito em relação ao homem em diversos campos, continua-se a verificar algumas incapacidades das mulheres em assumir também determinadas profissões. Academicamente as mulheres têm vindo a surpreender e são mais que os homens no ensino superior. Penso que isso se deve ao facto de elas encontrarem aí uma das poucas formas em singrar na vida e de se sentirem autónomas ao nível financeiro e pessoal.
Em conclusão, em pleno séc. XXI muitas conquistas foram feitas e hoje a mulher no mundo ocidental goza de liberdades que antes eram impensáveis, mas há ainda muito caminho a percorrer e como diria o poeta o caminho faz-se caminhando, por isso, um dia o Mundo poderá ser melhor quando valores como a igualdade e a equidade forem realmente respeitados. No entanto também penso que a Mulher deve manter a sua feminilidade, a sua função de matriarca, de ser boa mãe, de ser uma presença de amor para os outros e de não querer ser mais masculina do que os próprios homens. Essa será a grande dificuldade que a Mulher poderá enfrentar - querer ser Homem. Não foi para isso que “Deus a criou.”
Porque penso que a principal vantagem de ser Mulher é ser Mãe, porque é sem dúvida a maior dávida que ela pode ter, devemos ver representadas em todas as mães aquilo que eu considero o que é ser Mulher.
Por isso termino com uma homenagem a todas as Mulheres e em especial a todas as Mães com o poema de Eugénio de Andrade – Mãe.
Para a Mulher, para as Mães ouçam com atenção esta poesia.

CLUBE DE ÉTICA PROMOVE CONCURSO DE FOTOGRAFIA



TEMA: OS AFECTOS
O Clube de Ética da AESBUC está a promover um concurso de fotografia subordinado ao tema " Os Afectos". A iniciativa visa desenvolver nos alunos um espírito de cidadania e de interesse pela dimensão dos sentimentos humanos que tanta vezes são esquecidos na escola pois essencialmente a escola desenvolve o aspecto cognitivo. O Clube de Ética é assim um projecto abrangente. Este concurso premiará os 3 melhores trabalhos. Os interessados podem consultar o regulamento em placard próprio no recinto da AESBUC.

CALENDÁRIOS DE BOLSO

Foram oferecidos e distribuídos pela comunidade escolar do Externato-AESBUC calendários de bolso do Clube de Ética, com o seu logotipo. Esta actividade tinha como objectivo incentivar as pessoas para a necessidade de participação nas actividades do Clube que tem tido um papel inovador quer na comunidade escolar quer na sociedade civil. O Clube de Ética pretende ter um papel activo em Portugal na preocupação de divulgar as éticas práticas.

FOLHETIM DO CLUBE DE ÉTICA



FOLHETIM DO CLUBE DE ÉTICA

O Clube de Ética publica um Folhetim onde os alunos interessados em participar podem: escrever artigos de opinião no contexto da temática da Ética; realizarem entrevistas e inquéritos e publicar; passatempos e outros assuntos de interesse para a comunidade educativa.
O Folhetim tem um periodicidade semestral e tem sido uma mais valia na divulgação da ética e da cidadania e também na reflexão de questões importantes na sociedade.
O Clube de Ética vai no final deste primeiro período lectivo de 2008 publicar o seu 2º número.

A TURMA MAIS ÉTICA

O Clube de Ética do EASFS - Associação Escola Superior de Biotecnologia do Porto, Coordenado pelo Dr. Eugénio Oliveira, leva a cabo o projecto da certificação da Turma Mais Ética do EASFS- AESBUC. O projecto da Turma Mais Ética é pioneiro em Portugal, primeiro a ser levado a cabo no nosso País e que visa a melhoria do aproveitamento e do comportamento das turmas pois os parâmetros de certificação considerados são: a média do aproveitamento da turma, o comportamento; as faltas dos alunos; o espírito de grupo e solidariedade da turma bem como outros elementos considerados e avaliados pela comissão de ética no final do ano-lectivo.